sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A Lenda do Lago Mágico


Há muitos muitos anos, no local onde hoje se ergue a cidade de Leiria, viveu uma princesa, conhecida de todos pela sua bondade e sensibilidade. Toda a sua vida a princesa conhecera a felicidade. Tivera uma infância e adolescência alegres, sem que nada nunca lhe faltasse. Desde a família até ao seu povo todos a amavam e lhe queriam bem.
Quando completou dezoito anos, perante a ideia de casar, a princesa disse aos seus pais que casaria sim, mas só quando encontrasse aquele com quem sentisse a união e harmonia que desejava. Os pais garantiram-lhe que só a casariam com quem ela quisesse.
Por essas alturas lutava-se uma guerra a sul, e muitos princípes vinham de longe, com os seus exércitos a caminho de aventuras. Toda essa agitação, colorido e entusiasmo fascinavam a princesa. Foi numa dessas vezes, em que a princesa observava os preparativos militares, que notou um jovem príncipe muito elegante que logo começou a conversar com ela.
Não foi preciso muito para que os dois sentissem necessidade de passar juntos todo o tempo que podiam, conversando e passeando. Caminhavam pelos arredores do palácio, contando tudo sobre as suas vidas, e a princesa mostrava todos os locais que eram importantes para si. Em especial o seu vale preferido, onde sempre corria nos momentos de tristeza, quando queria estar mais perto de si própria. Foi lá que deram o primeiro beijo e que pela primeira vez declararam o seu amor um pelo outro.
Mas cedo chegou o dia em que o exército partiu para a guerra. A despedida dos dois apaixonados foi o momento mais triste até aí vivido pela princesa. Sentiu como se parte de si fosse também com o seu príncipe. Como se ficasse vazia. Como se tivesse já envelhecido sem ele.
A partir desse momento os dias da princesa foram vividos sem alegria. A ansiedade por notícias do seu amado consumia-a. Todos notavam a diferença. Sem o sorriso e o constante brilho da princesa toda a terra parecia mais pobre. Mas após algumas semanas, a fatídica notícia chegou. Homens feridos regressados do combate contaram como o exército do príncipe tinha sido derrotado, e ele se contava entre os muitos mortos.
Foi mais do que a princesa conseguia suportar. Correu para casa, fechou-se no seu quarto, e durante dias ninguém conseguiu falar com ela, nem os pais, nem os irmãos, nem as criadas em quem mais confiava. Deixou-se ficar, impávida, como que definhando por dentro.
Um dia, para surpresa de todos, a princesa levantou-se do seu leito, atravessou o palácio, e saiu. Ninguém a tentou parar, pois todos sabiam da sua dor, e sabiam que algo de importante estava para acontecer. Em reverência, olharam-na e seguiram-na à distância.
Viram a princesa correr. Correu até mais não poder, e só parou quando chegou ao seu lugar preferido, o bonito vale que lhe servia de conselheiro. Aí ajoelhou-se e, pela primeira vez desde que recebera a notícia, chorou. Chorou toda a tristeza que lhe ia na alma. Chorou toda a dor calada durante os dias anteriores. Chorou toda a beleza perdida para sempre dentro de si. Chorou o amor que não viria mais a sentir. Chorou durante todo o dia e toda a noite. Chorou até adormecer exausta.
Nessa noite a princesa sonhou que o seu amado viera confortá-la. Que estava do outro lado do vale à sua espera. Acordou ainda antes do romper da aurora, convicta de que o seu sonho era real. Levantou-se e correu em frente, para atravessar o vale e encontrar aquele cujo regresso tanto desejava.
Ao correr sentiu os pés molhados, talvez pela humidade da manhã. Logo de seguida as pernas, os joelhos, o tronco. A princesa percebeu que onde antes estivera um vale havia agora um lago. Um lago nascido das suas lágrimas.
A princesa não deixou que isso a travasse, e nadou até à outra margem. Aí, exactamente onde sabia que o encontraria, viu o seu príncipe que jazia ferido no chão. Não estava morto, como por engano a tinham feito acreditar. Estava cansado, um pouco ferido, mas bem. O príncipe, ouvindo um ruído, acordou para ver à sua frente a mulher que amava, ainda molhada do lago que acabara de atravessar. Abraçaram-se ambos e prometeram nunca mais se deixar.
Os dois casaram, e reza a lenda que foram muito felizes, vivendo uma longa vida de paz e amor lado a lado. Servido de exemplo de harmonia e bondade para todo o povo.
Quanto ao lago, continua ali, bonito, imponente, junto à cidade de Leiria. Os leirienses dizem-no mágico. É um símbolo de desejos realizados e de amores indestrutíveis. Sabem que ao banhar-se nas suas águas encontram uma magia inexplicável. Algo que lhes muda as vidas e que só poderia ter vindo de todo o amor e bondade da antiga princesa.
Ainda hoje os leirienses procuram o lago em momentos especiais. Às vezes para desabafar as suas mágoas, ou mesmo para que as suas lágrimas se juntem às da princesa. Outras vezes para pedirem que a pessoa amada regresse. Diz-se que ao banhar-se nas águas do lago uma pessoa encontra mais facilmente o amor da sua vida. E diz-se ainda que uma jura sincera de amor feita junto ao lago, resulta num amor que ninguém poderá quebrar.





Essa história pertence a 1000faces, grande escritor e jornalista do Reino de Portugal, e foi escrita de "uma recolha de Mil Faces baseada nas lendas de Leiria, contadas pelos habitantes. Foi inspirada pelas conversas com os locais, principalmente as Damas Vst e Sbcruglio, e é uma homenagem à cidade de Leiria. - texto retirado do forum do RPG Reinos da Renascença"

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