quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Menino


Era domingo. Ele acordou todo empolgado e correu para a janela. Afastou com a mão um pedacinho da cortina e o sorriso aumentou mais ainda. Ele volta pra cama, beija meus lábios...

-- Anda! Vêm! O dia está perfeito!!!!

-- Ajhduenjdd

-- Ah, vamos, não reclama, não, você disse que ia comigo...

Não tive escolha se não levantar da cama. Me arrastei para o banheiro e entrei no momento em que ele saia do banho. Liguei o chuveiro e tomei um banho rápido. Quando cheguei na cozinha, o café já estava pronto. Quase não consegui comer tamanha a vontade dele em sair. Enquanto beliscava um pedaço da pão ele arrumava as coisas no carro. Andava de um lado para outro sem parar e numa excitação crescente...

Entrei no carro enquanto ele punha o que faltava na mala. Saímos e ele ruma à estrada que leva para o aeroclube. No caminho explicações sobre o trajeto pretendido, sobre os motores, os controles de voo, combustível, baterias... Eu tentava acompanhar cada assunto interagindo da melhor maneira possível...

Quando apontamos na entrada do aeroclube, Antônio esperava por ele. Avisou ao guarda da portaria que era ele e assim que entrou no carro o assunto multiplicou de altura e os dois falavam sem parar. Eramos quase os primeiros a chegar e ele estacionou o carro o mais perto possível da pista. Descemos e fomos cumprimentar alguns amigos que já estavam lá.

Logo ele pediu licença e com Antônio foi preparar o equipamento. Tirou da mala do carro um belo aeromodelo. Era uma réplica de um avião que eu não conseguia lembrar o nome, por mais esforço que fizesse. Ele levou o avião para a pista e juntou-se a outros que já lá estavam.
Com o passar do tempo os grupos dividiram-se claramente entre os que estavam lá para pilotar e os que estavam para assistir ou acompanhar. Eu, claro, estava no segundo grupo. Fui até o carro, peguei a cadeira que ele estrategicamente havia posto para mim e sentei-me ao lado do veículo fazendo um pequeno grupo com outras pessoas.

Com a máquina fotográfica em punho, entre uma conversa e outra, tirava umas fotos dos voos da nave dele e de suas poses enquanto controlava o avião. Ele, por sua vez, chegava-se sempre que tinha um intervalo entre um avião e outro, ou precisava abastecer. O almoço, um belo “juntatudo”, foi servido à base de muita risada.

Ao fim do dia, voltamos para casa. Eu guiava enquanto ele, exausto, vinha falando feliz sobre as melhores manobras, os melhores aviões... Apesar de não entender nada daquilo, e ele saber disso, lá estava com ele, como sempre... Por um momento ele calou, olhou para mim com um sorriso e pôs sua mão na minha perna...

-- Te amo, Mang.

Olhei de lado e sorri, sabia daquilo... Ele recostou no banco e fechou os olhos mas o sorriso ainda continuava no rosto. Sua mão ainda na minha perna. Sorri ao ver aquele ar de criança marota e satisfeita nele. Amava-o também por isso...

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Encontros



Naquela tarde de inverno em que o sol havia esquentado por completo o dia e os raios do fim do percurso deixavam o céu meio rosado ensaiando a chuva que demoraria a vir, eu escutava o programa esportivo no rádio enquanto guiava.
O rádio ligado apenas por estar já que meus pensamentos iam longe. Dirigia mecanicamente enquanto minha mente divagava... O encontro parecia bem planejado, repetia tudo mentalmente para ter certeza de que tínhamos feito tudo...

Parei em frente à casa da Beatriz e antes mesmo de desligar o carro ela apontou no portão. Embarcou e seguimos ao local combinado. Incrivelmente não éramos as primeiras, já um grupo pequeno se encontrava conversando animadamente no saguão. Sorrindo nos aproximamos...

Quando o grupo nos viu, um tipo bonachão abriu os braços e falando alto veio em nossa direção, abraçou Beatriz entre votos de alegria e satisfação e logo depois agarrou-me nos seus braços. Um abraço apertado e saudoso.
No mesmo instante senti o poder da amizade. Instintivamente meus braços circularam a figura retribuindo a partilha. Fechei os olhos enquanto sorria e escutava ele dizendo ao meu ouvido:

– Por todos esses anos, em nem um único dia da minha vida, esqueci de pensar em você e agradecer por sermos amigos. Estava com saudades, que bom reencontrá-la...

Pedro e eu havíamos sido muito amigos na faculdade, era quase fácil dizer que ele formou-se graças ao pequeno grupo que criamos para estudos. Apoiávamos uns aos outros e procurávamos atender as dificuldades individuais de cada um. Mas Pedro era especial, tinha uma dificuldade imensa em tudo, e muitas vezes o pessoal irritava-se com ele. Mantive ele no grupo. Pois sabia dos esforços pessoais que fazia para estar alí.

Então escutamos as piadas comuns do tempo da faculdade a dizer que ele podia deixar um pouco para os outros... Rimos e ele me largou do abraço. Cumprimentamos os demais e procuramos nossa mesa. A turma foi chegando e o jantar foi servido. Foi um momento muito especial. Em que recordamos muitas coisas boas e verificamos com satisfação que o tempo foi generoso para a maioria de nós.

No fim da noite, deixamos um grupo responsável pelo próximo encontro. Trocamos alguns e-mails com os mais íntimos e nos despedimos. Bea estava radiante, dispensou minha carona para voltar para casa com Paulo, um antigo casinho que estava solteiro... Cheguei em casa satisfeita e mais ainda quando vi que havia outro carro na garagem. Entrei, subi as escadas para o quarto e o vi deitado. Fui ao banheiro, tomei um banho quente. Deitei ao lado dele abraçando-o...

-- Boa noite, Mang... - disse sonolento.

-- Não sabia que voltava hoje, senão tinha voltado mais cedo...

Ele virou para mim, beijou-me e com ar maroto disse:

-- Surpresa!

E aquela noite teve o fim perfeito que merecia...