sábado, 31 de outubro de 2009

São Francisco do Sul


-- Amor?
-- Fala, Mang.
-- Sabe o que eu encontrei ontem?
-- Não, amor, você não me contou ainda...
-- ...
-- ...
-- Chato!
-- (risos) Vai, conta.
-- Eu estava mexendo em uma caixa que veio da casa da mamãe e estavam lá as fotos do tempo do Grupo...
-- Ah! Que máximo!
-- Separei um álbum... Vou mandar refazer algums fotos pra por em porta retratos...
-- Posso saber qual álbum separou?
-- Hum... Um de São Francisco do Sul...
Nesse instante olhei para ele e vi o sorriso maroto que eu adoro e ele viu no meu olho a pergunta que eu não fiz. As lembranças daqueles dias circulavam pelas nossas cabeças... Quantas vezes falamos do acampamento no Forte de São Francisco e descobrimos que olhávamos para o mesmo acontecimento por ângulos distintos...
A única coisa que combinava nas histórias era a parte e que dizíamos:
-- Eu jamais esquecerei daquele acampamento.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O que é Liberdade


A liberdade não é só sair de trás das grades. Esta é a liberdade física. A verdadeira liberdade é poder ser, poder pensar, poder falar. É deixar falar e deixar pensar. A verdadeira liberdade é aceitar o outro, o diferente.
Liberdade não é dizer eu sou livre; a verdadeira liberdade é ser livre.
A verdadeira liberdade não ter a liberdade de ser submisso ao pseudo legalismo; ter liberdade é dizer não ao autoritarismo e enfrentá-lo.
Ter liberdade é poder olhar nos olhos dos outros e fazer com que os seus descendentes se orgulhem de você, inclusive pelos seus erros.
Ser livre é ser ético. É respeitar. Não é vestir máscaras para praticar chacotas.
Muita gente foi presa durante a ditadura e não aprendeu a ser livre; tornou-se simplesmente liberta. Ser liberto não é ser livre.
Não é fácil ser livre. Pouquíssimas pessoas são livres.

By Mauro Cherobim

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Chile, uma passagem rápida


-- ...
-- Lari, nas fronteiras chilenas ainda morre muita gente por conta de minas terrestres deixadas alí durante a ditadura...
-- Sério, Si.
-- É, mas o golpe de estado divide muito as opiniões por aqui, o melhor é nem falar nisso...
-- ...
E assim conversávamos no meio de um passeio pelo centro de Santiago. Estávamos indo em direção a uma feira que nos foi recomendada por uma amiga minha:
-- Si, los frutos. No te olvides de ellos...
Uma multidão de pessoas nos atropelava em meio a barracas de um mercado ao ar livre. Peixes, carnes, frutas, verduras, "pasteles" e um montão de coisas mais. O "pastel de choclo" não se pode deixar de esperimentar...
Mas o que mais nos encanta no Chile é sua hospitalidade. Com uma camiseta contendo uma bandeira do Brasil pintada a mão, parecíamos celebridades passando por alí...
-- Si, prova essa frutinha aqui...
-- Que delícia. O que é?
-- Não sei, fiquei com medo de perguntar...
-- hauahua
-- hauahau
Andamos mais um pouco, comprei umas coisas pra comermos no hotel enquanto a Lari se empanturrava com uma empanada. Não era ainda 9 da manhã, os passeios prometiam. Encontramos com Cecília - nossa anfitriã - na escola onde trabalha. Cecília é professora de alemão em uma escola no Chile. Entramos e passeamos pela escola enquanto esperávamos que a aula terminasse:
-- O Estado subsidia todas as escolas chilenas... Eles tem um programa modelo de educação.
-- Hum...
Quando olhei pro lado, para me assegurar de que estava sendo ouvida, peguei uma mocinha de olhos brilhantes e sorriso aberto para um rapazote sorridente do outro lado do pátio, que assim que percebeu que eu olhava desviou o olhar... Fiz o mesmo. Ao virar o rosto vi Cecilia vindo em nossa direção. Boa desculpa. Nos juntamos as 3 e fomos almoçar para o passeio da tarde. Olhei pelo canto do olho e vi um aceno e um papelzinho sendo lançado ao chão... Certamente teria um endereço eletrônico nele...

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Paciência

Sentadas à mesa:
-- Ai pessoal, não dá mais. Aquele bairro é longe e desolado demais...
-- Ah, mas é por pouco tempo... Passa a margarina, por favor.
-- É, é por pouco tempo, daqui a uns anos já tem até banco por lá...
-- Daquei alguns anos!!!! Nem pensar...
-- rrsrs
-- rsrsrs
-- rsrs
-- Não, sério - leite? - vocês estão cheios de planos de sair de lá...
-- Mas isso já faz 3 anos!!! Não dá mais.
-- Olha só... Não... deixe quieto...
-- ...
-- Ah não!!! Vai falando... Odeio quando você faz suspense, Mang... Já que apontou, atire.
-- Hum... Então olha, não podia estar contando nada, mas penso que você deve esperar mais um pouquiiiiiiinho...
-- Ah, ela sabe de alguma coisa.
-- Mang!?
-- Não posso meninas - Olha essas bolachinhas aqui.
-- Hum, e o café está uma delícia.
-- Ai, Mang...
-- Ana, nada de pressa. Tudo no seu tempo.
-- Mas isso não é justo, você já sabe de algo que eu não sei!!
-- rsrs
-- Ei, Cintia, você também sabe?
-- ... (olhar de paisagem!!)
-- haha
-- Vocês duas...
-- Querida, apenas escute o que eu digo. PACIÊNCIA.
-- Ara, Mang...
-- Pão de queijo?
-- ...
-- ...
-- ...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Plantão

Estou sentada lendo meu livro até que adormeço. Não queria chegar a esse ponto, mas o plantão parece mais longo do que precisa ser.
No meu sonho viajo aos dias em que eramos apenas adolescentes, acampando com a turma e rindo por qualquer bobagem. Os fogos de conselho... A gente inventando coisas cada vez mais malucas para diversao absoluta de todos...
As canções e jogos dos chefes... Tudo em seu tempo e com a mística devida... Como era bom... Ouço então a cançao mais desejada: "porque perder as esperanças de nos tornar a veeeer, por que perder as esperanças, se há tanto querer...." Nossas mão entrelaçadas alí, como um só corpo. Deus, Pátria e Próximo...
Sinto um leve toque em meus cabelos. Os dedos encaracolando uma mecha perto da orelha, acordo:
-- Boa noite, Mang.
-- F, que bom que chegou. Que horas são?
-- Quase 1.
Mexo-me e sinto o corpo dolorido e frio. Ele me dá a mão, me levanta da poltrona carinhosamente, um beijo e um abraço... Subimos os dois. Ele cansado, eu com a sensação do passado.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Dia do professor

Chego em casa. O cansaço é enorme após mais um longo dia de trabalho. As crianças gritam o tempo todo, dentro e fora das salas, pelos corredores... Vou direto pro quarto deixar as coisas e decidida a tomar um banho. Entro no quarto e entre outras coisas em cima da minha cama vejo um vaso de flores... Flores brancas:
Feliz dia dos professores.

É o que diz o cartão. Sento na cama com o vaso nas mãos. Penso no di de hoje e de quantos lembraram que hoje era dia do professor... As meninas no corredor dizendo entre dentes: "parabéns profe"... Um sorriso maroto: "Cafezão hoje em profe! Parabéns!" Um sorriso, um abraço... Uma maça embrulhada com um laço bem bonito...
Hoje, apesar do cansaço me sinto feliz, me sinto gratificada por ter escolhido a profissão que já foi da minha avó.
Não vivo num outro mundo onde ser professor é fácil, não, a vida hoje de quem professa é bem complicada: alunos armados em sala, bate boa com professores e alunos o tempo todo, pais que não educam seus filhos e pensam que a escola tem essa função, mals salários e péssimas condições de trabalho - como salas de 50, 60 alunos...
No entando, poder dividir o que sei com outros é meu maior prazer e saber que alguém me vê feliz e se faz feliz com isso também é legal!
Cheiro as flores. Sorrio. Leio mais uma vez o cartão. A letra é inconfundível. Pego o telefone e disco um número...
-- Alo!?
-- Oi, obrigada!
-- ...
-- ...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A cidadezinha


Estava eu sentada na praça daquele lugar no meio do nada. Um lugar cujo nome não me lembro de tão pequeno que era...
A praça é o centro do lugr; ao redor dela está tudo. Numa ponta a prefeitura, no lado inverso a igreja - não se sabe qual foi erguida antes. Estão alí ainda a padaria, uma agência bancária, a farmácia, uma loginha dessas que vendem tudo - tudo mesmo - e uma agência dos correios.
E é dalí que ele sai com seu sorriso maravilho aberto de ponta a ponta do rosto. Obviamente fez o que queria:
-- Então?
-- Ah, Mang, tenho certeza de que vão adorar... Você e suas idéias maravilhosas...
Sorrio. Ele senta-se a meu lado com seu livro na mão. Atrás de nós um velhinho empurra o carrinho com o cesto de lixo e o som da vassoura no chão preenche o espaço. O sol banha de luz mais um dia...

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Aprontando

-- Alô!
-- Oi...
-- Então, vamos?
-- Ah, não perco por nada...
-- Quer que eu passe te pegar?
-- Seria ótimo! Tenho que levar as coisas que preparei!
-- Rá! Estou louca pra ver a cara que fará!
-- (risos)
-- (risos)
-- Vou tomar um banho, me arrumo e te espero.
-- Ah, tudo bem. Mas eu ainda demoro um pouco.
-- Eu sei, mas eu disse: "vou tomar um banho."
-- Aaaah! (risos)
-- (risos)
-- Passo por aí umas 19 e 30...
-- Ótimo, assim chegamos com tempo de sobra. E as outras?
-- Já estão todas combinadas, só faltava alguém pra te pegar...
-- Será perfeito...
-- É... Perfeito...
-- ...
-- ...
-- Então te vejo às 19 e 30.
-- Em ponto.
-- Tchau.
-- Até.

sábado, 3 de outubro de 2009

Cumplicidade

Estava sentada no pier, longe, pensando em como as coisas aconteceram de repente e eu me vi no meio de um embaralhado de coisas... Procurando descobrir quando foi que eu fiquei tão triste a ponto de não ter ânimo nem pra estar feliz naquilo que mais gosto de fazer... Ele veio, sentou ao meu lado e sentiu o que estava no meu coração:
-- Hey, porque essa tristeza? Onde foi parar minha alegria, meu porto seguro?
Uma lágrima escorreu do meu olho...
-- Eu não sei...
-- ...
-- Você lembra do velho rabugento da Pollyanna? Eu me sinto como ele agora, não há nada que me deixe feliz no momento...
Ele me deu um abraço e ficou em silêncio comigo por um tempo. Quando viu que eu não me moveria dali naquele instante, levantou-se e foi para dentro; eu precisava ficar só por uns minutos...
Não me lembro de quanto tempo fiquei alí pensando nas coisas e deixando que a tristeza escorresse em lágrimas, mas quando o vento frio começou a açoitar resolvi entrar. Ainda havia sol apesar dele estar chegando no horizonte. Entrei na casa e ela estava num silêncio estranho... Procurei por ele no térreo e nada. Meu coração bateu mais forte: "Onde teria ido?" Subi as escadas. Passei direto pela sala de TV e fui pro nosso quarto...
Quando abri a porta foi incrível! Eu jamais poderia imaginar algo como aquilo. O quarto, cuidadosamente mobiliado e branco reluzia as cores do arco íris. Todas elas estavam alí repedidas várias vezes em todos os espaços do quarto... Quando olhei pra janela o vi sorrindo ao lado do milhares de cristais que estavam pendurados alí...
-- Sempre podemos achar algo bom!
Eu apenas lhe sorri o meu melhor sorriso. Um sorriso franco e cheio de amor. Um sorriso agradecido por ele me mostrar que está do meu lado e que as coisas podem ficar bem ruins, mas estaremos juntos. Andei em direção a ele naquele mundo colorido e encantado em que ele havia transformado nosso quarto.
-- Obrigada!
E um beijo selou nossa cumplicidade.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Poema para a secretaria

Eu trabalho numa escola
Que tem um povo que me degola,
Se eu almoço na padaria
Já começa a romaria:

Não esquece do meu Baton!
Eu quero um branco e um marron!
Você comeu o meu antes,
então dois é pouco e não bastante.

É a mesma coisa todo dia,
Mas não dá para negar
Que de maneira bem sadia

Nem tanto ao céu, nem tanto ao mar,
Tem chocolate todo dia
Pra alegrar a secretaria.