sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Perfume

Lembro quando começamos a namorar. Eu queria lembrar do cheiro dele a todo custo, principalmente quando não estava perto dele.
Um dia peguei a Ângela e a obriguei a ir a uma perfumaria comigo. Fiz a vendedora tirar todos os vidros de perfumes masculinos das prateleiras e, com paciência, fui experimentando um por um...
-- Delicioso... Mas doce demais...
-- ...
-- huum... Não, acho que é mais cítrico...
-- ...
A assim eu ia... A vendedora sem entender descia um depois do outro na tentativa de acertar... Ângela estava louca comigo, e pegava o café o tempo todo para limpar o meu olfato na esperança de que aquilo não demorasse tanto...
Quando eu estava quase desistindo a jovem me trouxe um perfume e disse:
-- Olha, esse é um que pouquíssimos buscam, ele é difícil de sair e combina somente com alguns homens...
Peguei a amostra e senti. Ao respirar imediatamente um arrepio subiu pela minha nuca. Fechei os olhos. Senti o abraço dele em mim... A essência que vinha dele saindo por todos os poros...
-- É esse! - disse com um sorriso faceiro no rosto - Vou levar um vidro, por favor! Pode embrulhar pra presente...
As duas, Ângela e a funcionária da loja, pareciam mais do que tudo, aliviadas.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Artur


Estava refletindo no carro enquanto dirigia para casa.
Acabara de sair de uma reunião imensamente chata e improdutiva. o chefe faloyu, falou, falou... Gabou-se de como ele era bom, de como havia feito a empresa crescer e lá bem no final, abriu espaço para uma ou outra idéia, mas tenho certeza de que ele não escutou nenhuma delas... Seus olhos não olhavam o falante e seguramente ele pensava em como "ele" era bom...
Eu sei que se aquele encontro estivesse sendo feito entre os colegas renderia muito mais. As idéias fluiriam e nós ganharíamos mais uns pontos na companhia... A quem "ele" pensa enganar? Somos nós os responsáveis pelo crescimento...
Nós, os amigos, todas as vezes em que nos sentamos àquela mesa redonda somos como os Cavaleiros do Rei Artur, cúmplices, eficientes, honrados...
Decidimos as coisas rapidamente e pomos em prática o plano. O tempo que resta nós usamos para a troca efetiva da amizade e companheirismo...
Suspiro quando paro no sinaleiro e penso alto:
-- Puxa, aidéia da Solange era realmente boa...
Abre o sinal e eu continuo o caminho pra casa.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Zoo


Máquina fotográfica na mão. Ele sentado ao pé de uma árvore olhando a ilha no meio do lago... Lá estão os primatas.
Ele se diverte. Adora o zoológico... O sorriso que tem com a máquina na mão é enorme... Os saguís parecem saber o que ele quer e exibem-se para a foto...
Assim foi também com a lontra - ela nadava em seu tanque fazendo malabarismos tão graciosos que só podia estar se exibindo - e também com os pássaros...
Caminhávamos pelo zoo com sorrisos no rosto. Ele adora o zoo. Eu adoro quando ele sorri!
Quando chegamos na girafa foi minha vez de fotografar... Animal elegante e bonito... Fascinante, eu diria...
Ao olhar para ele depois de tirar muitas fotos batidas, percebo seu olhar fixo em mim e o sorriso do homem apaixonado...
Não resisto. Caminho até ele e dou-lhe um beijo. De mãos dadas nos dirigimos para a ala dos felinos...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Cadeira vazia

Naquela cidadezinha hoje impera um arzinho fúnebre. Falta algo.
O vento parou de soprar. O sol sumiu entre a tristeza do povo. Existe no ar um cheiro de sal das lágrimas...

Todos os dias ele estava lá. O povo pasava e ele dava com a mão. As crianças riam e eles lhes ralhava ou ria para eles ou ainda deles...

Ele era o médico:

-- Seu Antonio, hoje tô com uma dorzinha aqui no ombro...

-- Faz uma compressa com essa planta. - e tirava uma planta do armário...

Ele era o professor:

-- Manoel, quantas vezes vou ter que ensinar como por o madeirame?

O ancião:

-- A benção seu Antonio!

A cidade praticamente girava em torno dele.

Hoje o vento parou. O sol sumiu. Existe o cheiro de sal...

A cadeira dele está vazia...

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Combinado


TRIIIIM, TRIIIIM, TRIIIM

-- Alo?!

-- Oi.

-- Oooooiii!! Tudo certo?

-- Sim! Estou ligando pra chamar pra vir aqui em casa à noite para jantar.

-- Ah! Perfeito! Só eu?

-- Não, chamei todas.

-- Legal! Levo o que?

-- Hum... Já que perguntou... Traz a sobremesa?

-- Siiiim. O que vai fazer de comida?

-- Risoto de Fungi...

-- Tá pensarei em algo bem delicioso e que combine...

-- A Luiza trará o vinho pro jantar e a Dani para a sobremesa... Liga pra ela.

-- Ok. Às oito?

-- Isso. Achei um bom horário...

-- Combinado.

-- Até a noite.

-- Até.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A partida

Juntos frente a frente... Nossa concentração no tabuleiro. A tensão é sentida... Ele faz um movimento e me olha. Sorri...
Intrigada pelo seu sorriso olho para o tabuleiro minuciosamente. Sei que ele está aprontando. Conheço aquele olhar... Em silêncio me concentro. Peça por peça imagino os movimentos... Não encontro o que é. Começo de novo...
-- Qual a intensão dele?! - penso - Sei que há algo...
Ele vê meu semblante. Sabe o que estou procurando algo. Posso sentir o prazer vindo dele. Ele sorri mais uma vez e recosta na cadeira. Toma a taça de vinho na mão e bebe em goles saborosos... Eu não acho o que ele pretende. Frustrada movo o bispo:
-- Xeque! - Olho pra ele meio ressabiada e sabendo que há algo.
Num movimento de cavalo ele come meu bispo, salva o rei e diz vitorioso:
-- Xeque mate.
Olho indecisa! Como eu não vi?!
-- Mang?! Mais vinho?
A tensão se desfaz pois ele me segura a garrafa da bebida na mão com aquele olhar mágico e triunfante de sempre.
Pego meu copo. Estico o braço para ele. Tenho a taça cheia. Dou um gole. Olho para o tabuleiro do xadrez e digo:
-- Mais uma? Não perderei essa.
Ele me olha e arruma as peças no tabuleiro. Brancas pra ele...
-- Eu começo agora.
-- ...