terça-feira, 19 de outubro de 2010

Velho amigo


Naquele dia eu estava sentada debaixo da árvore no parque. Lia compenetradamente. Era como se cada parte de mim estivesse dentro das páginas daquele livro. Não escutava nem os barulhos ao redor.

Como para me despertar uma bola bate em minha perna. Assusto-me e seguro a bola olhando em volta. Havia muitas pessoas no parque, ficava difícil dizer à quem pertencia.

Percebo um menino vindo em minha direção. Cara de "desculpas" armada. Loiro, olhos azuis, tinha o rosto redondo como o das crianças... De repente algo me chama a atenção. É como se meus olhos me traíssem e eu voltasse no tempo.

Nós, com apenas 9 anos, corríamos pelo parque, crianças em pleno começo de verão, todas correndo e gritando pelo parque que havia sido florido pela primavera. Deixei algo que estava guardado há tempos em uma das gavetas do meu passado... Devaneio... Quando percebo o rapazinho está com as mãos esticadas para mim:

-- Moça, desculpe, foi um chute meio forte. Posso ter minha bola de volta?

Sorrio e quando estico a bola para ele o reconhecimento surge em minha mente no mesmo instante. Raul. Esse era o nome do menino que costumava correr comigo pelo parque.

Quando fui fazer a pergunta que meu cérebro formulou veio um homem procurando pelo menino. No momento em que me vê uma ruga também se forma em seu cenho e as palavras dele foram mais rápidas que as minhas:

-- Mang?!

Abro os braços mostrando a mim mesma num gesto bem comum, faço um movimento de cintura curvando levemente o corpo pra frente e depois de um belo sorriso:

-- Como está, Raul?!

Sou acolhida num abraço e uma enxurrada de palavras me arrasta para onde está o resto da família. Meu livro perde a leitora. Passamos o resto da tarde conversando e quando dou por mim já é hora de ir. Despeço-me e corro para o estacionamento, ele já devia estar esperando. Avisto o carro vermelho de longe e seu motorista pacientemente à espera.

Entro no carro, beijo-o e sorrio. Quando ele liga o carro eu começo.

-- Temos um jantar com amigos essa semana...

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Era uma vez em Portugal I


Nossa história começa, senhores, como muitas por esse reino. Em uma taverna qualquer do Reino de Portugal. Dois jovens. Com dois passados tão intrigantes e misteriosos, mas que em tudo se pareciam.
Ele morava num canto, tinha seu campo e era um simples cidadão português procurando não aparecer muito.
Ela morava em outro canto, a dias de viagem dele. E vinha com a comitiva da família de passagem pela cidade dele.
Numa pequena noite portuguesa, estava ele sentado na tasca apenas fazendo sua refeição diária quando ela passa pela porta. Linda. Com seus cabelos sendo mexidos com o vento e com seus olhos a vasculhar a Tasca por um canto livre para ela.
Não vinha só. Vinha também a comitiva. Uma viagem longa e cansativa. Mas do cansaço seus passos a levaram a uma cadeira perto dele e ali trocaram seu primeiro olhar. Ela fez sinal ao taverneiro que lhe serviu o melhor da casa, e o jovem a seu lado, lhe pagou uma cerveja para que o corpo relaxasse da jornada.
A comitiva animada, ria-se de tudo e de todos. O jovem tímido e desconsertado cada vez mais sentia seu olhar atraído para a mesa da jovem... Mais até, para o olhar dela, profundo e hipnotizantemente belo...
Ao conseguir dizer algo em meio a algazarra, suas palavras foram de elogios para ela. Não se conteve. Mesmo mantendo o ritmo educado de suas palavras sempre doces, insistia em fazer elogios para aquela jovem desconhecida.
Trocaram palavras amigas. Ela, educada e tímida. Ele, educado e tímido. Mas na conversa que tinham descobriram-se coisas em comum. Passados. Amigos. Irmãos... Coisas e pessoas que nem mesmo os mais espertos espiões seriam capazes de decifrar.
Trágico, senhores, é no entanto o destino. Ao mesmo tempo em que juntava os amantes – ah sim, isso eles serão mais tarde – também os levava para caminhos opostos. Ela partiria ainda àquela noite e os dois não se veriam mais. Ao acompanhar a jovem até sua estalagem, o jovem lhe confessa o que vai ao coração e descobre subitamente que não sente só a paixão. Conversam e trocam juras. Beijos apaixonados. Loucos os dois? Talvez. Mas se prometem um ao outro eternamente naquele momento. Os dois estão prestes a viver uma grande história. Mas ainda não sabem.
E nem nós, caros leitores, pois em partes essa historia será contada. Hoje fico por aqui, pois a pena me pesa e o caminho para casa é longo.
(São 7 partes, postarei-as aqui. Escrevi para um rpg - reinos da renascença - é a primeira de outras que vieram. 2010.)

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Considerações sobre o nada

Limpezas sempre nos trazem coisas interessantes. Hoje encontrei um texto. Estava num pacote com textos dos meus alunos, a data é de 2003. Vamos a ele:


A cosia mais incrível que existe é o "nada". Pensem em tudo o que o nada
engloba e é isso que é incrível, como pode o nada englobar tantas coisas se é
nada?
Vejam, nada, no dicionário, quer dizer "nenhuma coisa", a "não existencia",
mas, se pode ser definido no dicionário, já é alguma coisa.
Outro exemplo, muitas vezes as pessoas perguntam para outras: "O que você
está fazendo?" A resposta mais comum pra essa pergunta é: "Nada!" Mas será que
de fato alguém é capaz de estar fazenod nada mesmo? Afinal, nosso corpo não para
nunca, mesmo que estejamos em estado de repouso, nossas mentes estão em pleno
funcionamento...
Por falar em "estado de repouso", vamos olhar o nada pelo lado físico, o
nada é o vazio, mas será que temos o vazio completo? Quando entramos em uma sala
e ela não tem móveis nenhum, ela não está vazia de fato, ela está cheia de ar.
Então pode-se argumentar: "bem, mas em um tubo de vácuo não existe ar". Pois,
não existe ar, mas existe então o vácuo, que é alguma coisa, já que é
definível...
Aí está, o nada é a coisa mais incrível que eu conheço, pois, por mais que
pense, não consigo chegar a uma conclusão sobre o nada... Talvez ele seja
apenas algo que inventamos para ter no que acreditar...


Curitiba, set de 2003.



Ui, aí está, não é que seja a perfeição, mas é meu.