Naquele dia eu estava sentada debaixo da árvore no parque. Lia compenetradamente. Era como se cada parte de mim estivesse dentro das páginas daquele livro. Não escutava nem os barulhos ao redor.
Como para me despertar uma bola bate em minha perna. Assusto-me e seguro a bola olhando em volta. Havia muitas pessoas no parque, ficava difícil dizer à quem pertencia.
Percebo um menino vindo em minha direção. Cara de "desculpas" armada. Loiro, olhos azuis, tinha o rosto redondo como o das crianças... De repente algo me chama a atenção. É como se meus olhos me traíssem e eu voltasse no tempo.
Nós, com apenas 9 anos, corríamos pelo parque, crianças em pleno começo de verão, todas correndo e gritando pelo parque que havia sido florido pela primavera. Deixei algo que estava guardado há tempos em uma das gavetas do meu passado... Devaneio... Quando percebo o rapazinho está com as mãos esticadas para mim:
-- Moça, desculpe, foi um chute meio forte. Posso ter minha bola de volta?
Sorrio e quando estico a bola para ele o reconhecimento surge em minha mente no mesmo instante. Raul. Esse era o nome do menino que costumava correr comigo pelo parque.
Quando fui fazer a pergunta que meu cérebro formulou veio um homem procurando pelo menino. No momento em que me vê uma ruga também se forma em seu cenho e as palavras dele foram mais rápidas que as minhas:
-- Mang?!
Abro os braços mostrando a mim mesma num gesto bem comum, faço um movimento de cintura curvando levemente o corpo pra frente e depois de um belo sorriso:
-- Como está, Raul?!
Sou acolhida num abraço e uma enxurrada de palavras me arrasta para onde está o resto da família. Meu livro perde a leitora. Passamos o resto da tarde conversando e quando dou por mim já é hora de ir. Despeço-me e corro para o estacionamento, ele já devia estar esperando. Avisto o carro vermelho de longe e seu motorista pacientemente à espera.
Entro no carro, beijo-o e sorrio. Quando ele liga o carro eu começo.
-- Temos um jantar com amigos essa semana...
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