sábado, 23 de agosto de 2014

Paz

          

           Havia muito tempo que minha cabeça não estava tão no lugar como agora... Aquela tarde no trabalho parece ter desencadeado todos os eventos nostálgicos do resto do dia.
            Seguia no carro em direção ao salão. Um pequeno tapa no visual para agradar ao espelho... A paz invadindo meu corpo... Lá, decido também por uma hidratação nos cabelos e enquanto o “mágico efeito das mãos no cabelo” vai me relaxando, falo de amenidades.
            Ao sentar para fazer as unhas das mãos, ao lado senta uma moça. Conversa vai. Conversa vem... Mais uma vez estou a falar do meu tesão em ser professora e de quão intenso é esse trabalho. Da falta que me faz estar com as crianças e da imensa felicidade que elas causam. Do comprometimento...
            De repente a pergunta:
            -- Você não está lembrando de mim, não é?
            -- ...
            -- Eu já te conheço. Sou a irmã da ....
            Um milhão de coisas acontece em meu cérebro. O nome, o tempo, a saudade. Um tempo em que as preocupações eram tão pequenas e tão sem importância que o que realmente nos incomodava eram as amizades, o bem estar daquela situação...

            Sorri, mas a emoção foi tão grande que senti desejo de chorar de alegria. E então, surgiu a necessidade de voltar aqui. Notei que anda abandonado. Quem sabe seja hora de ganhar vida novamente... 

domingo, 2 de junho de 2013

Um Novo Temp(L)o


Domingo, mais um do ano. Chove lá fora, outra coisa bem comum por aqui. O céu cinzento nos convida a acomodar as cobertas em volta do corpo e continuar na cama. Ligo a TV pronta para por meu plano infalível de morgar o dia todo em prática.

Como todo domingo, está o esporte na telinha, sim essa do plim plim, e hoje, puxa, direto do Maracanã. Cada bloco é recheado por imagens, depoimentos, reportagens sobre a "reinauguração" do estádio. Não vou considerar o regionalismo, porque para mim, quando houve a reinauguração da Vila Capanema (Estádio Durival de Brito e Silva) que é (ou não) do meu time do coração, para mim a emoção foi enorme, e eu bem que gostaria que houvesse uma cobertura igual, e acredito que muitos amigos também gostariam do mesmo para seus estádios, lugares que os bons amantes de futebol, chamam de casa, mas queria repartir o que estou sentindo...

Ouvir cada depoimento, ouvir cada história me emociona. Engraçado até, porque na real, eu nunca estive no Maracanã e nem cultuo assim a possibilidade de uma visita, mas me emociono mesmo assim... Algumas vezes deixo uma lágrima teimosa rolar... Porque!?

Sei lá. Paixão. Torcer é isso. É apaixonante, cada qual torce para sua equipe como pode, tem fé na melhora, acredita que mesmo ruim o time vencerá. Veste a camisa, briga por ele, corneta por ele... Alguns decoram nomes e formações fantásticas, têm lembranças de títulos que outros nem sequer sonharam em ver. Vendo essas reportagens, lembro de dias emocionantes dentro da Vila, que nem de perto se compara ao "gigante" Maracanã em estrutura, mas que para mim é enorme. Eu queria hoje, estar no Maracanã. Queria poder sentir cada gota daquela emoção que vibrará lá dentro. Mesmo que o Brasil não ganhe da Inglaterra, hoje será um dia especial para cada um presente. Sei disso, porque estava na reinauguração da Vila Capanema, ao lado do meu avô, e dos meus tios, inclusive do "intruso" tio Neto que torce para o Coritiba... Aquela noite foi especial para mim assim como será hoje no Maracanã...

Bom jogo, Maracanã, e que as novas estruturas tragam também um novo comportamento de torcidas. Uma torcida sempre apaixonada, mas educada.

terça-feira, 19 de março de 2013

Pé d'água


Estávamos na casa de campo, os dias faziam-se um mais lindo que o outro e nós aproveitávamos para tirar o mofo do corpo...

-- Pronta?

A pergunta era retórica, porque era óbvio que eu não estava pronta. Ainda de pijama e sentada à mesa tomando um saboroso café com leite olhei para ele com cara de preguiça...

-- Não podemos esticar umas toalhas à beira da piscina e ficar por aqui mesmo?

-- Ah... Vamos!!! - disse animado e me incentivando a levantar – Você prometeu que tentaria ao menos parte do caminho...

-- Entããão, estou tentando, mas não consigo me animar a isso...

-- Já estou com tudo pronto. A barraca, as cordas, o lanche... Vamos, põe o tênis....

Vencida pelo excesso de alegria dele, levanto e vou ao quarto me arrumar. Quando saio para a frente da casa ele está animadamente conversando com o caseiro e explicando por onde íamos – tudo uma questão de segurança.

O caminho pela floresta era encantador e fui obrigada a admitir que estava tudo maravilhoso. Depois de tempos caminhando, chegamos à uma lareira e ele resolveu montar a barraca. Já era quase meio dia e o estômago dava sinais de fome.

-- Como nos velhos tempo, hein... Vou fazer um almocinho mateiro na fogueira para nós.

-- Enquanto ele se empolgava com a fogueira eu tratei de encontrar alguns troncos interessantes para sentarmos.

O cheiro da fumaça e o da floresta me trouxeram boas lembranças... Estava tudo muito bom e depois do almoço resolvemos andar por aí... Só para vermos o que víamos...

Corremos como pudermos, mas foi molhados que chegamos na barraca... Ríamos... E no meio da risada fui tomada por um abraço, por um beijo... Era preciso esperar a chuva passar...

domingo, 17 de março de 2013

Sábado de Sol




O dia amanhece bonito e com sol... Algo raro para essa cidade que gosta de um tempo mais escuro e molhado... O café da manhã é cedo para aproveitar as companhias que na cozinha já fazem falatório como se fosse final de dia. Depois do café, volto ao quarto para aguardar. Assim era o combinado.
Já em cima da hora o telefone toca:
− Alo?!
− Tava dormindo ainda?
− Nada, tava esperando...
Combinamos o horário, me arrumo e saio. Em meu coração uma coisa estranha. Ando triste com umas coisas que me fazem falta, mas das quais respeito os tempos devidos. E uma coisa como a que está por acontecer, há muito é esperado...
O parque está em festa. Sol, movimento, bicicletas e caminhantes. Procuramos o grupo. Pronto. Todos reunidos ao ar livre brincando... Brincando de coisa séria. De fazer teatro. Meio receosa entro no jogo da exposição... Não sou eu... Aliás, sou, mas um eu que anda meio perdido no meio de tanta realidade esquisita. De tanta “maturidade” e seriedade exigida. Reencontro comigo mesma e com meus avós... Com minha mãe... Mas o momento não é triste, é de pura alegria e satisfação.
A fome atinge os “brincadores” e resolvemos comer. Parte do grupo se reúne no velho Passeio Público. E eu me pergunto quantas mais lembranças serão reavivadas... Enquanto comemos muitas coisas são conversadas, são planejadas, já me sinto aceita no grupo de forma tão única que é como se tudo estivesse escrito para ser assim. O que estava planejado para a manhã se prolonga até o fim da tarde quando resolvemos que precisamos voltar ao mundo do qual saímos. Já no carro, uma nova proposta.
− Esticamos no café?
− Bora! Não tenho nada por fazer.
Lá outras lembranças, outros cheiros, outros abraços e sabores de vozes que já faziam falta. Que delícia de café. Que delícia de momento. O fim da tarde se transforma em quase fim de noite.
Deixo a amiga em casa depois de um telefonema preocupado por eu ter “sumido” o dia todo...
Estou feliz. O cheiro dos amigos que tenho por perto me faz bem. As pessoas novas que conheci já me fazem bem. O passado de volta me faz bem. Esse dia foi bom porque trouxe de volta o melhor de mim. O meu eu mais perfeito. Feliz e sorridente. O sorriso verdadeiro...

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Expressões Futebolísticas



No ‘’Hora Marcada’’ de hoje vamos falar sobre as expressões futebolísticas e tentar, do nosso jeito, explicar algumas delas.


Logo no apito inicial surge a primeira expressão, uma das tantas criações do grande ex-radialista Osmar Santos, é a famosa ‘’pimba na gorduchinha’’, mas tenha calma que ninguém está te chamando de gorda, é só um dos tantos apelidos carinhosos para a atriz principal da parti
da, a bola, também conhecida por menina, nega, pelota e redondinha.

O jogo começa e você se sente como se estivesse ouvindo a narração de um reality show em um zoológico, tem drible da vaca, cavalo paraguaio, frango pelo campo, gente fazendo gol como beija-flor e tantas outras gírias que confundem qualquer um. Mas não se preocupe que o assunto ainda é futebol. Expliquemos: drible da vaca não é quando você se obriga atravessar a rua quando vê alguém indesejável no caminho, mas sim quando o jogador toca a bola de um lado do adversário e pega do outro.

O cavalo paraguaio é aquele clube que começa bem o campeonato, mas por não conseguir manter o ritmo, termina em uma colocação intermediária. Já o frango é um gol, que seria altamente defensável, mas é aceito pelo goleiro, esse, então, vira o frangueiro da vez - nada a ver com aquele seu amigo que sai a noite e pega qualquer uma que vê pela frente.

Já a expressão "fazer o gol como um beija-flor", é dar aquela paradinha no ar, seguida de uma cabeçada, e mandar a bola pro gol, técnica que Dadá Maravilha, mesmo quando falava ‘’que não existe gol feio, feio é não fazer gol’’, dominava com a maestria de poucos.

Passado o reality show animal, o jogo tá ficando bom até que o jogador dá um chapéu, seguido de uma pedalada e lança a bola para o companheiro fazer um gol de bicicleta. Bom, o chapéu é compreensível, nesse sol até que pode ajudar em alguma coisa, mas pedalada e bicicleta? Que horas passou do futebol para o ciclismo que ninguém avisou?

Esse chapéu ninguém gosta de receber, é quando o jogador toca a bola por cima do adversário e a pega do outro lado, gíria também conhecida como lençol. A pedalada, que se popularizou depois de cair no gosto de jogadores como Ronaldinho Gaúcho e Robinho, é a passada dos pés por cima da bola, alternadamente, como se estivesse pedalando sobre ela. Já a bicicleta é quando o jogador fica na horizontal, de costas para o chão e, com os pés suspensos no ar, mete a bola pro gol e depois corre pro abraço.

Depois de um golaço o time começa fazer cera, catimba e firula, que são alguns sinônimos de enrolar o jogo para ganhar tempo, a firula sendo mais conhecida quando um jogador faz jogadas para impressionar os torcedores. O goleiro fecha o gol e, aos gritos de olé da torcida, o juiz encerra o espetáculo. Alguns vão dizer que foi zebra - que quem ganhou foi o pior, outros dirão que foi marmelada - que foi tudo armado, mas o que ninguém discorda é que foi uma belíssima partida de futebol.


O texto de hoje é da Francine Belem. Ela publicou no doentesporfutebol.com. 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Tempo




Sentada na minha mesa de frente para a janela, olho o horizonte. Não que realmente haja um possível de ser visto por conta dos prédios todos ao redor, mas minha mente não vê os prédios...
Possivelmente esse vagear se dá porque nada surge. Dias e dias a fio sem que o trabalho flua... Estou aguardando os dias mas parece que a demora é mais opressora do que todo o resto do trabalho. A necessidade de que as coisas aconteçam bem é que me deixa assim.
Lá fora uma grande e pesada nuvem de chuva se forma. O vento já mostra o caminho que as gotas de água tomarão ao caírem. O alvoroço toma conta do escritório como um formigueiro prestes a sofrer um ataque de algum agente externo. Janelas que ficaram abertas, roupas no varal, crianças com pouca roupa... Mas meu corpo dormente escuta aquilo sem se mover. Meus olhos naquele ponto onde deveria estar o horizonte.

No canto da boca surge um sorriso. Penso na noite anterior e sei que nesse momento ele está na cama. Relaxando enquanto eu estou aqui... Nessa agonia do dia que não vai nem vem...

-- Mang?!

Saio do transe envergonhada.

-- As planilhas? Pode ser agora?

-- Claro.

Remexo o corpo que insistia em dormir e voltar ao transe. Fixo os olhos na tela do computador e procuro as planilhas tão desejadas. Encontro. Verifico se tudo está como tem que ser. Imprimo uma versão e envio para o e-mail do pedinte. Olho para o relógio.

-- Bandido...

Não andava rápido como tinha que andar...

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Menino


Era domingo. Ele acordou todo empolgado e correu para a janela. Afastou com a mão um pedacinho da cortina e o sorriso aumentou mais ainda. Ele volta pra cama, beija meus lábios...

-- Anda! Vêm! O dia está perfeito!!!!

-- Ajhduenjdd

-- Ah, vamos, não reclama, não, você disse que ia comigo...

Não tive escolha se não levantar da cama. Me arrastei para o banheiro e entrei no momento em que ele saia do banho. Liguei o chuveiro e tomei um banho rápido. Quando cheguei na cozinha, o café já estava pronto. Quase não consegui comer tamanha a vontade dele em sair. Enquanto beliscava um pedaço da pão ele arrumava as coisas no carro. Andava de um lado para outro sem parar e numa excitação crescente...

Entrei no carro enquanto ele punha o que faltava na mala. Saímos e ele ruma à estrada que leva para o aeroclube. No caminho explicações sobre o trajeto pretendido, sobre os motores, os controles de voo, combustível, baterias... Eu tentava acompanhar cada assunto interagindo da melhor maneira possível...

Quando apontamos na entrada do aeroclube, Antônio esperava por ele. Avisou ao guarda da portaria que era ele e assim que entrou no carro o assunto multiplicou de altura e os dois falavam sem parar. Eramos quase os primeiros a chegar e ele estacionou o carro o mais perto possível da pista. Descemos e fomos cumprimentar alguns amigos que já estavam lá.

Logo ele pediu licença e com Antônio foi preparar o equipamento. Tirou da mala do carro um belo aeromodelo. Era uma réplica de um avião que eu não conseguia lembrar o nome, por mais esforço que fizesse. Ele levou o avião para a pista e juntou-se a outros que já lá estavam.
Com o passar do tempo os grupos dividiram-se claramente entre os que estavam lá para pilotar e os que estavam para assistir ou acompanhar. Eu, claro, estava no segundo grupo. Fui até o carro, peguei a cadeira que ele estrategicamente havia posto para mim e sentei-me ao lado do veículo fazendo um pequeno grupo com outras pessoas.

Com a máquina fotográfica em punho, entre uma conversa e outra, tirava umas fotos dos voos da nave dele e de suas poses enquanto controlava o avião. Ele, por sua vez, chegava-se sempre que tinha um intervalo entre um avião e outro, ou precisava abastecer. O almoço, um belo “juntatudo”, foi servido à base de muita risada.

Ao fim do dia, voltamos para casa. Eu guiava enquanto ele, exausto, vinha falando feliz sobre as melhores manobras, os melhores aviões... Apesar de não entender nada daquilo, e ele saber disso, lá estava com ele, como sempre... Por um momento ele calou, olhou para mim com um sorriso e pôs sua mão na minha perna...

-- Te amo, Mang.

Olhei de lado e sorri, sabia daquilo... Ele recostou no banco e fechou os olhos mas o sorriso ainda continuava no rosto. Sua mão ainda na minha perna. Sorri ao ver aquele ar de criança marota e satisfeita nele. Amava-o também por isso...